domingo, 5 de agosto de 2018

EDUCAR LETRANDO. UM ATO POLÍTICO E LIBERTÁRIO


Trabalho em grupo de Carine Dias Soares, Jaqueline Lemos, Jaqueline Rosa e Luciana Arcos


Educar Letrando. Um ato político e libertário
A psicogênese da escrita trouxe novas reflexões a respeito da alfabetização, já que a partir disso passou-se a reconhecer que cada criança está em um nível de alfabetização e isso nos permite enquanto professores a pensar em estratégias para que esse aluno avance.
Para tanto, faz-se necessário que o trabalho a ser desenvolvido com o educando seja contextualizado, tendo como referencial o protagonismo do aluno diante da sua realidade, e dos elementos intrínsecos ao seu cotidiano enquanto sujeito. É o aluno que vai nos mostrando o caminho que devemos seguir para que a sua alfabetização seja também letramento e assim libertária.
Enquanto professores devemos ter a consciência que educar é um ato político e transformador, logo o objetivo da alfabetização deixa de ser “o aprendizado de técnicas do ler e do escrever, para alfabetização como tomada de consciência, como meio de superação de uma consciência ingênua e conquista de uma consciência crítica” SOARES,2007.
Paulo Freire responde através de uma carta a pergunta: para que alfabetizar? “[...] para que as pessoas que vivem numa cultura que conhece as letras não continuem roubadas de um direito –o de somar à ‘leitura’ que já fazem do mundo a leitura da palavra, que ainda não fazem”.

Se continuarmos desprezando a bagagem de conhecimentos que o aluno traz para a escola, continuaremos pensando que a Educação de Jovens e Adultos é uma extensão da alfabetização dos anos iniciais, e assim continuaremos tratando de forma infantilizada essa modalidade de ensino que tem como alunos adultos com um universo riquíssimo a ser explorado, o que os afastará da escola, deixando de cumprirmos nosso papel, que é político e social.
Segundo Giroux, a alfabetização funcional está ligada a perpetuação de um sistema de adequação da escola ao mercado, mantendo uma relação de opressão da ordem econômica ou da preservação de uma ideologia que mantém uma tradição ocidental unitária.
 Já a alfabetização crítica está vinculada ao empoderamento político, pois foi arquitetada ideologicamente como uma construção histórica, política e social ligada à emancipação social e cultural, não só do indivíduo como do grupo.  Para Paulo Freire este empoderamento é um ato social e político que acaba por refletir na conscientização do indivíduo quanto a sua liberdade.
Dentro do discurso dominante o analfabeto é tratado como uma moeda de troca para a legitimação desta divisão da sociedade entre os que idealizaram a produção e aqueles que efetivamente produzem. E o analfabetismo não é somente a falta do saber ler e escrever, mas também a privação cultural. Paulo Freire nos dirá que o analfabetismo é uma injustiça social e por isso alfabetizar não é somente ensinar a ler e escrever, mas principal e fundamentalmente este é um processo de reflexão crítica sobre o ler e o escrever, sobre o significado da linguagem, e estes saberes tornar-se-ão instrumentos da sua libertação desta injustiça social.
Tendo por base a Pedagogia de Paulo Freire, Giroux ressalta a importância da conscientização do professor e do aluno quanto ao seu papel nesta relação: de troca, de diálogo e de construção conjunta do conhecimento. Freire deixou claro em sua teoria que o diálogo entre professor e aluno é que conduzirá a prática alfabetizadora e que, também, através desta construção que a alfabetização se dá, não como um decodificar da palavra escrita e sim através e a partir da compreensão de mundo, das relações entre o que se aprende e a contextualização com a sua realidade, seja ela expressa no passado, no presente e visando o futuro. Só assim este educando será capaz de “realmente” ser alfabetizado, se tornando sujeito da sua própria alfabetização: um ser pensante, com consciência.
Para Gramsci, a alfabetização pode ser usada para duas situações opostas, uma para o empoderamento do indivíduo e uma outra para continuar a contribuir em uma relação de repressão e dominação, com isso a alfabetização se torna um campo de luta. Em alguns discursos liberal e de direita, como por exemplo, nos Estados Unidos, temos os interesses econômicos se mantendo como uma tradição dominante em que o mais importante é o profissional que apresenta uma certificação.
No entanto precisamos considerar que alfabetizar, não tem relação apenas com a habilidade de saber ler e escrever, mas também com a consciência do indivíduo de saber seu lugar no mundo e se descobrir como participante dele. Conforme é indicado, no Dicionário de Paulo Freire, em que se identifica alguns pontos para a alfabetização (Location Kindle 655-665).
• A alfabetização é um ato de conhecimento, de criação e não de memorização mecânica.
• Os(as) alfabetizandos(as) são sujeitos do e no processo de alfabetização.
• A alfabetização deve partir do universo vocabular, pois deste retiram-se os temas.
• Compreender a cultura enquanto criação humana, pois homens e mulheres podem mudar através de suas ações.
• O diálogo é o caminho norteador da práxis alfabetizadora.
• Leitura e escrita não se dicotomizam, ao contrário, se complementam e, se combinadas, o processo de aprendizagem fará parceria com a riqueza da oralidade dos(as) alfabetizandos(as).

Em uma alfabetização democrática, o alfabetizador dialoga com o alfabetizando de uma forma que o conhecimento seja contextualizado no olhar às situações concretas, que muitas vezes em se biografando é que nós nos reconhecemos como sujeitos no mundo.
Com isso podemos entender que as várias formas de luta mudam no transcorrer da história, se transformam. Sendo assim entender o educando e acolhendo o que trazem, seus saberes e vivências para o ambiente escolar, também é uma forma de atuar. Ao mesmo tempo em que se faz necessário envolver a comunidade escolar de modo que essa se torne atuante nas decisões dos projetos relacionados à escola.


  


Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo; MACEDO, Donald. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. Arquivo Kindle.
STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (Orgs.). Dicionário Paulo Freire. 2. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. Arquivo Kindle.
VIEGAS, Ana Cristina Coutinho; DE MORAES, Maria Cecília Sousa. Um convite ao retorno: relevâncias no histórico da EJA no Brasil. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, [S.l.], p. 456-478, apr. 2017. ISSN 1982-5587. Disponível em: <https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/8321/6361>. Acesso em: 08 apr. 2018. doi: https://doi.org/10.21723/riaee.v12.n1.7927.

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