Trabalho em grupo de Carine Dias
Soares, Jaqueline Lemos, Jaqueline Rosa e Luciana Arcos
Educar
Letrando. Um ato político e libertário
A psicogênese da escrita
trouxe novas reflexões a respeito da alfabetização, já que a partir disso
passou-se a reconhecer que cada criança está em um nível de alfabetização e
isso nos permite enquanto professores a pensar em estratégias para que esse
aluno avance.
Para tanto, faz-se
necessário que o trabalho a ser desenvolvido com o educando seja
contextualizado, tendo como referencial o protagonismo do aluno diante da sua
realidade, e dos elementos intrínsecos ao seu cotidiano enquanto sujeito. É o
aluno que vai nos mostrando o caminho que devemos seguir para que a sua
alfabetização seja também letramento e assim libertária.
Enquanto professores devemos
ter a consciência que educar é um ato político e transformador, logo o objetivo
da alfabetização deixa de ser “o aprendizado de técnicas do ler e do escrever,
para alfabetização como tomada de consciência, como meio de superação de uma
consciência ingênua e conquista de uma consciência crítica” SOARES,2007.
Paulo
Freire responde através de uma carta a pergunta: para que alfabetizar? “[...]
para que as pessoas que vivem numa cultura que conhece as letras não continuem
roubadas de um direito –o de somar à ‘leitura’ que já fazem do mundo a leitura
da palavra, que ainda não fazem”.
Se continuarmos desprezando a bagagem de conhecimentos
que o aluno traz para a escola, continuaremos pensando que a Educação de Jovens
e Adultos é uma extensão da alfabetização dos anos iniciais, e assim continuaremos
tratando de forma infantilizada essa modalidade de ensino que tem como alunos
adultos com um universo riquíssimo a ser explorado, o que os afastará da escola,
deixando de cumprirmos nosso papel, que é político e social.
Segundo Giroux, a alfabetização funcional
está ligada a perpetuação de um sistema de adequação da escola ao mercado,
mantendo uma relação de opressão da ordem econômica ou da
preservação de uma ideologia que mantém uma tradição ocidental unitária.
Já a alfabetização crítica está
vinculada ao empoderamento político, pois foi arquitetada
ideologicamente como uma construção histórica, política e social ligada à
emancipação social e cultural, não só do indivíduo como do grupo. Para
Paulo Freire este empoderamento é um ato social e político que acaba por
refletir na conscientização do indivíduo quanto a sua liberdade.
Dentro do discurso dominante o
analfabeto é tratado como uma moeda de troca para a legitimação desta divisão
da sociedade entre os que idealizaram a produção e aqueles que efetivamente
produzem. E o analfabetismo não é somente a falta do saber ler e escrever,
mas também a privação cultural. Paulo Freire nos dirá que o analfabetismo
é uma injustiça social e por isso alfabetizar não é somente ensinar a ler e
escrever, mas principal e fundamentalmente este é um processo de reflexão
crítica sobre o ler e o escrever, sobre o significado da linguagem, e estes
saberes tornar-se-ão instrumentos da sua libertação desta injustiça
social.
Tendo por base a Pedagogia de Paulo
Freire, Giroux ressalta a importância da conscientização do professor e do
aluno quanto ao seu papel nesta relação: de troca, de diálogo e de construção
conjunta do conhecimento. Freire deixou claro em sua teoria que o diálogo entre
professor e aluno é que conduzirá a prática alfabetizadora e que, também,
através desta construção que a alfabetização se dá, não como um decodificar da
palavra escrita e sim através e a partir da compreensão de mundo, das relações
entre o que se aprende e a contextualização com a sua realidade, seja ela
expressa no passado, no presente e visando o futuro. Só assim este educando
será capaz de “realmente” ser alfabetizado, se tornando sujeito da sua própria
alfabetização: um ser pensante, com consciência.
Para
Gramsci, a alfabetização pode ser usada para duas situações opostas, uma para o
empoderamento do indivíduo e uma outra para continuar a contribuir em uma
relação de repressão e dominação, com isso a alfabetização se torna um campo de
luta. Em alguns discursos liberal e de direita, como por exemplo, nos Estados
Unidos, temos os interesses econômicos se mantendo como uma tradição dominante
em que o mais importante é o profissional que apresenta uma certificação.
No
entanto precisamos considerar que alfabetizar, não tem relação apenas com a
habilidade de saber ler e escrever, mas também com a consciência do indivíduo
de saber seu lugar no mundo e se descobrir como participante dele. Conforme é
indicado, no Dicionário de Paulo Freire, em que se identifica alguns pontos
para a alfabetização (Location Kindle 655-665).
• A alfabetização é um ato
de conhecimento, de criação e não de memorização mecânica.
• Os(as) alfabetizandos(as)
são sujeitos do e no processo de alfabetização.
• A alfabetização deve
partir do universo vocabular, pois deste retiram-se os temas.
• Compreender a cultura
enquanto criação humana, pois homens e mulheres podem mudar através de suas
ações.
• O diálogo é o caminho
norteador da práxis alfabetizadora.
• Leitura e escrita não se
dicotomizam, ao contrário, se complementam e, se combinadas, o processo de
aprendizagem fará parceria com a riqueza da oralidade dos(as)
alfabetizandos(as).
Em
uma alfabetização democrática, o alfabetizador dialoga com o alfabetizando de
uma forma que o conhecimento seja contextualizado no olhar às situações
concretas, que muitas vezes em se biografando é que nós nos reconhecemos como
sujeitos no mundo.
Com
isso podemos entender que as várias formas de luta mudam no transcorrer da
história, se transformam. Sendo assim entender o educando e acolhendo o que
trazem, seus saberes e vivências para o ambiente escolar, também é uma forma de
atuar. Ao mesmo tempo em que se faz necessário envolver a comunidade escolar de
modo que essa se torne atuante nas decisões dos projetos relacionados à escola.
Referências
Bibliográficas
FREIRE, Paulo; MACEDO,
Donald. Alfabetização: leitura do mundo,
leitura da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. Arquivo Kindle.
STRECK, D. R.; REDIN, E.;
ZITKOSKI, J. J. (Orgs.). Dicionário
Paulo Freire. 2. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
Arquivo Kindle.