Se o mundo fosse surdo, e eu
não, certamente me sentiria deslocada. Sentiria que há algo em mim que não há
nos outros. Sentiria que poderia usar minha voz para me expressar, e que minha
voz não seria reconhecida. Bem como os surdos utilizam os sinais, e suas
expressões, e tantas vezes não são reconhecidos. Provavelmente, não me sentiria
totalmente identificada com aquelas pessoas, pois meus sentidos estariam, em
boa parte, ligados a minha capacidade auditiva, enquanto as outras pessoas
teriam seus sentidos atrelados a outras. Se eu não tivesse acesso à linguagem
de sinais, tal qual os surdos não têm acesso à linguagem oral, certamente me
sentiria frustrada por não poder me identificar com aquelas pessoas. Se me
encontrasse sozinha nessa situação, como tantas vezes surdos encontram-se
sozinhos em meio a pessoas que ouvem, me sentiria sem identidade, deslocada,
afastada dos demais, e principalmente menosprezada por não poder me inserir
naquele grupo.
Acho muito interessante fazer esse tipo de reflexão. Penso na menina
Sandrine do filme “sou surda e não sabia”. Ela é um exemplo de como uma pessoa
pode sentir-se oprimida num meio em que não é compreendida, mesmo que seja no
meio familiar com pessoas que a amam. É importante que façamos esse exercício
de colocar-nos no lugar do outro para melhor compreendê-lo. Devemos perceber
que muitas vezes os surdos ficam à margem de uma inclusão social pois isso lhes
é imposto, uma vez que a acessibilidade não é plenamente oferecida a esse
grupo. Devemos nos conscientizar e cada vez empreender mais, em especial nas
nossas escolas, para que essa inclusão seja feita de forma construtiva, não só
para o surdo, mas para toda a comunidade escolar.
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